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O Petição Inicial é para aqueles que precisam enfrentar o balcão do cartório, o processo, o juiz, o oficial de justiça, o cliente, os livros, a internet e as contas no fim do mês.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

MUNDO JURIDICO

Coluna do dia 27/06/2012. Hoje Maringá. Por RMB

Golpe no Mercosul?
Porque o Brasil, Argentina, Uruguai não respeitam o direito internacional...

Todos ouvimos pela grande mídia brasileira que houve um golpe no Paraguai. Tenho acompanhado o Paraguai por outros motivos, em especial o Colegio de Abogados del Paraguay, uma entidade similar à nossa OAB. O que aconteceu foi que o Congresso paraguaio simplesmente respondeu, de forma célere, à sociedade paraguaia. E os governos da América Latina, Brasil incluso, estão gritando que foi golpe e pressionando o novo governo estabelecido segundo os parâmetros da Constituição da República Paraguai. E a opinião do povo paraguaio? Não vale? Ou o governo brasileiro sabe melhor o que é bom para o Paraguai do que seu próprio Congresso? Talvez a principal preocupação dos governos latino americanos é que se institua um processo célere nestes países, algo muito temeroso... Já pensou celeridade no caso Cachoeira? Já imaginou celeridade no caso Mensalão? Realmente assustador! Celeridade legal ofende a ampla defesa? O ficha limpa no Brasil não é um desrespeito à coisa julgada? E não lembro de ter ouvido nenhum congressista paraguaio atacando nossa lei! Sem entrar nesta polêmica, gostaria de, antes de fazer uma pequena análise jurídica da questão de que os países membros do Mercosul, a pretexto da defesa da democracia, quererem justamente praticar um ato anti democrático, vale a pena recordar que no dia 15/06/2012 o Colegio de Abogados del Paraguay publicou um “Reclamo pela vigência do Estado de Direito"” e no final deste Reclamo consta a seguinte frase: “Consideramos responsáveis por essas mortes à atitude complacente do Ministro da Interior Carlos Filizzola e indiferente do presidente Fernando Lugo. Lamentamos que uns oferecem suas vidas no cumprimento do dever, e outros encorajados por ideologias ultrapassadas que consideram a luta de classes armada como procedimento válido para impor as suas ideias. O COLÉGIO DE ADVOGADOS DO PARAGUAI não pode calar sua indignação sobre os recentes atos criminosos e reclama a todos os Poderes do Estado ações mais enérgicas para restabelecer a paz social no campo, agora e para sempre. O Congresso não pode perder mais um minuto em cálculos políticos, mas atuar politicamente para um país melhor[1]. A sociedade paraguaia pedia a saída do presidente. A luta lá era contra uma ideologia ultrapassada... Mas vamos ao que interessa. Os membros do Mercosul, Brasil, Argentina e Uruguai bravatam que irão sancionar o Paraguai pelo “golpe” ao governo Lugo. Para fazerem a “punição” ao governo legítimo e legal do Paraguai e também ao povo paraguaio (porque quem vai responder pelas sanções, na prática será o combalido povo paraguaio), invocam o Protocolo de Montevideo sobre compromisso com a democracia no Mercosul, Ushuaia II, subscritos em 20 de dezembro de 2011. Ocorre, salvo erro, que o Paraguai não fez a ratificação em seu Congresso deste Protocolo, de modo que este documento não vincula este Estado. Mas este argumento é o menor deles. Na verdade o Brasil, guindado à categoria de imperialista, está colidindo frontalmente com os princípios da autodeterminação dos povos e da não intervenção, que só podem ser superados em casos extremos, como violação grave a direitos humanos. A Carta da OEA (Organização dos Estados Americanos), em seu art. 19, em consonância com a Resolução 2625 da ONU, na sessão XXV de 24 de outubro de 1970, prescreve: nenhum Estado ou grupo de Estados tem direito de intervir direta ou indiretamente, seja qual for os motivos, em assuntos internos de qualquer outro. Se todos os Estados sabem disso, porque ficam falando e ameaçando? Será que o povo brasileiro quer isto? E pensar que um dia a nossa diplomacia respeitava este princípio...  será que é porque aqui o governo defende estas ideologias ultrapassadas?



[1] Tradução livre de “Hacemos responsables de estas muertes a la actitud complaciente del Ministro del Interior CARLOS FILIZZOLA e indiferente del Presidente FERNANDO LUGO. Lamentamos que unos ofrenden sus vidas en el cumplimiento de su deber, y otros lo hagan alentados por ideologías trasnochadas que consideran la lucha de clases y la forma armada procedimentos válidos para imponer sus ideas. El COLEGIO DE ABOGADOS DEL PARAGUAY no
puede callar su indignación ante estos últimos hechos criminales y reclama a todos los Poderes del Estado las acciones más enérgicas para devolver la paz social al campo, ahora y para siempre. El Congreso Nacional no debe esperar un minuto más en cálculos políticos, sino debe actuar políticamente por un país mejor.” In www.colegiodeabogados.org.py

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